quinta-feira, agosto 03, 2017

Exclusivo: como Eduardo Cunha distribuiu R$ 30 milhões que recebeu da JBS

Papéis entregues pelos delatores revelam que o ex-deputado comprou sua vitória na campanha a presidente da Câmara em 2015
DIEGO ESCOSTEGUY / ÉPOCA

Planilha da JBS aponta pagamento de propina para ex-deputado Eduardo Cunha (Foto: Reprodução)

A nova leva de documentos da JBS entregues à Justiça, e obtidos por ÉPOCA com exclusividade, joga luz num episódio que será capital na delação do ex-deputado federal Eduardo Cunha, do PMDB do Rio de Janeiro: a compra indiscriminada de deputados, sobretudo do chamado centrão, para garantir a vitória do peemedebista na eleição a presidente da Câmara, em 2015. Cunha, conforme já revelou ÉPOCA, atuou como tesoureiro informal do PMDB em 2014. Cobrava de empresas – como a JBS – e se certificava de que os deputados fiéis fossem devidamente contemplados. Batia contas com o então vice-presidente, Michel Temer, segundo já admitiu seguidas vezes a interlocutores, todas as semanas. Aquele período eleitoral, entretanto, era duplo para Cunha. Ele tentava se reeleger deputado e, ao mesmo tempo, presidente da Câmara. Precisava abastecer a campanha de seus aliados – e, se necessário, sabotar a campanha daqueles que não se vergavam a ele, financiando os adversários de seus adversários.
Como se descobriu na delação da JBS, Joesley embarcou no projeto de poder de Cunha. Topou repassar R$ 30 milhões ao deputado. De acordo com planilhas e relatos obtidos por ÉPOCA, Cunha centralizou o reparte do dinheiro – e só ele, portanto, poderá revelar a quem entregou os recursos, boa parte em dinheiro vivo. Além de R$ 4 milhões à bancada mineira do PMDB, Cunha determinou o pagamento de R$ 1 milhão, em cash, ao deputado e ex-ministro Marcelo Castro. Gastou outros R$ 10,9 milhões direcionando a verba da JBS para empresas que lavavam seu dinheiro e de seus aliados. Desse total, R$ 7,8 milhões foram depositados em escritórios de advocacia. Outros R$ 11,9 milhões foram recolhidos por Cunha, em dinheiro, por meio do assessor em quem mais confia, Altair Alves Pinto. Sempre no Rio de Janeiro. Houve também doações oficiais ao PMDB. Além de pagamentos de contas controladas por Joesley, na Suíça, a contas controladas por Lúcio Funaro, o doleiro conhecido como Mameluco.
Procurada, a defesa de Eduardo Cunha, preso no Paraná, afirmou não ter conhecimento sobre os fatos citados.

Exclusivo: ex-ministro da Agricultura recebeu dinheiro da JBS em seu gabinete

Foram R$ 250 mil entregues a Neri Geller, do PMDB
DIEGO ESCOSTEGUY / EPOCA

Planilha da JBS aponta pagamento de propina para Neri Geller, ex-ministro da Agricultura (Foto: Reprodução)
Em outubro de 2014, Florisvaldo de Oliveira, o homem da mala da JBS, entrou num avião rumo a Brasília para mais uma entrega de dinheiro. Eram R$ 250 mil. O destinatário do dinheiro sujo era, dessa vez, Neri Geller, peemedebista então ministro da Agricultura e muito próximo do ex-deputado Eduardo Cunha e do presidente Michel Temer. O dinheiro foi entregue por Florisvaldo no gabinete do ministro. Em meio à Lava Jato.
Procurado, o ex-ministro da Agricultura e atual secretário de Políticas Agrícolas, Neri Geller, afirmou ter recebido com “surpresa e indignação” a notícia de que seu nome aparece na delação da JBS.

Exclusivo: propina da JBS causou briga entre doleiro e PMDB de MG

Os R$ 4 milhões recebidos por Toninho Andrade e João Magalhães foram motivo de desavença com Lúcio Funaro
DIEGO ESCOSTEGUY
Planilha da JBS aponta pagamento de propina para Toninho Andrade e João Magalhães (Foto: reprodução)
Os documentos da JBS entregues à Justiça, e obtidos por ÉPOCA com exclusividade, revelam como o ex-deputado federal Eduardo Cunha, do PMDB do Rio de Janeiro, comprou deputados, sobretudo do chamado centrão, para garantir a vitória do peemedebista na eleição a presidente da Câmara, em 2015.
Em setembro de 2014, de olho não só na chefia da Casa, mas na própria reeleição, Eduardo Cunha usara R$ 4 milhões de seu crédito com Joesley Batista para comprar a bancada do PMDB de Minas Gerais. O lobista da JBS, Ricardo Saud, pediu ao doleiro Lúcio Funaro, apelidado de Mameluco entre os quadrilheiros, que gerenciava a conta-corrente do PMDB, para entregar o dinheiro a dois expoentes da bancada mineira: os deputados João Magalhães e Toninho Andrade. Não tardou, como Saud previa pela fama dos três envolvidos, começaram a chegar as reclamações. De ambos os lados. Funaro dizia que não ia pagar mais nada aos deputados, que, por sua vez, diziam nada ter recebido. Em quem Saud acreditava? Em ninguém. A turma chegou a fazer reuniões para resolver o impasse. Sem sucesso. Episódios como esse escaldaram Saud. Por mais que os políticos corruptos insistissem em receber propina em dinheiro vivo, Saud resistia. “Sempre dá rolo”, costuma dizer.
O vice-governador de Minas, Toninho Andrade, admitiu ter presenciado uma reunião entre Joesley Batista e Eduardo Cunha, mas disse que a JBS nunca teve nenhum benefício nem negociação ilegal envolvendo ele e a empresa. Ele também disse ser falsa a informação de que teria pedido qualquer repasse de valores ao deputado estadual João Magalhães (PMDB).

Exclusivo: Ciro Nogueira recebeu propina em dinheiro vivo da JBS

Remessa de R$ 2,8 milhões veio das contas de recursos desviados de aportes do BNDES à empresa, com autorização do PT

DIEGO ESCOSTEGUY

O senador Ciro Nogueira, presidente do PP, recebeu pouco mais de R$ 2,8 milhões de propina da JBS em 2014, de acordo com registros mantidos pela empresa. Ciro recebeu em dinheiro vivo, retirado da Comercial Carvalho, uma das clientes da empresa de Joesley Batista. O valor entregue a Ciro foi retirado de um caixa formado pela JBS com propina devida ao PT por negócios feitos com o BNDES, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
Ciroplanilha (Foto: Arte Época)
Anos antes, Joesley passara a separar 4% de todos os valores recebidos pela JBS do banco público em duas contas no JP Morgan, nos Estados Unidos, em nome de duas empresas offshore criadas nas Bahamas. Era dinheiro sujo devido ao PT pela ajuda dada na expansão da JBS. Na campanha de 2014, a cada ordem do então ministro da Fazenda, Guido Mantega, Joesley mandava pagar ao PT e seus aliados e descontar do saldo, que somava mais de US$ 150 milhões. Como aliado do PT, Ciro recebeu desse caixa ilegal. Fora esse dinheiro para Ciro, o PP ainda recebeu R$ 40 milhões com a mesma origem.  
Com clientes no varejo espalhados por todo o Brasil, como supermercados, atacados e frigoríficos, a JBS dispunha de um fornecimento garantido de dinheiro vivo para atender a demandas assim dos políticos. Os pagamentos nessa modalidade eram resolvidos com uma ligação. Seja no Rio de Janeiro, seja em Minas Gerais, Demilton, o funcionário que controlava o fluxo de propina na JBS, entrava em contato com o cliente e pedia que separasse um valor. Era comum que empresários e políticos mandassem buscar os valores, tamanha a despreocupação com a operação ilegal. Foi assim com Ciro Nogueira. O senador não foi encontrado para comentar.

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